quarta-feira, 14 de julho de 2010

Impressões de Marisa Nubile sobre o encontro de Junho

A reunião do cine-club do mês de junho foi em Jacareí, na casa da Léo, e fomos de São José para lá numa condução fretada. Todos numa "Van"....ah! isso por sí só já traz recordações da minha juventude, quando ia feliz para algum lugar com alguns amigos dentro de uma "Kombi". Agora já somos senhores e senhoras, mas a idéia é a mesma: reunir-se, conversar, rir, trocar experiências. 
Sou a mais nova integrante do grupo e como tudo é novidade para mim tenho a vantagem de experimentar os encontros com o frescor da descoberta. Quando estamos diante do desconhecido, mesmo que seja calorosamente acolhedor, ficamos mais atentos aos detalhes. Então, não pude deixar de sentir o perfume das velas logo na entrada, de perceber o carinho da mesa bem posta no centro da sala de jantar, do ambiente descontraído que a nossa antitriã impôs desde seu primeiro sorriso, desde suas primeiras palavras: "Bem-vindos!!"
Fico pensando que não há nada mais milagroso do que exercitar a capacidade, tão humana, que é acolher o outro. Acho que o recheio do filme é só um pretexto para esse exercício. Precisamos de recheio, então além de palavras também desfrutamos da gastronomia e dos vinhos. Tudo uma delicícia! Desta vez eu "entrei" nas massas e no irresistível camarão na moranga.  O alimento, como sabemos, não serve apenas para alimentar o corpo, ele alimenta também o espírito. Antropofágicamente digerimos, junto com a comida, o afeto.
E, por falar em prazer e afeto, há que se destacar o lugar privilegiado que o vinho ocupa dentro do grupo. Ele é um convidado a mais. Esperam sua chegada, colocam-no num lugar privilegiado e tiram fotos da "reunião de garrafas". Confesso que neste quesito sou uma total analfabeta, principalmente diante dos outros participantes. Gosto de vinho, mas atualmente não posso ingerir bebida alcoólica. Então, tive a "brilhante" idéia de levar uma garrafa de vinho "sem álcool" que comprei numa loja de produtos naturais. Seria uma saída honrosa, não fosse o gosto detestável da tal bebida que nem de longe merece o título de vinho. Quanta decepção!!! 
Bom, mas e o filme? O filme do mês foi "Morte sobre o Nilo", uma adaptação para o cinema de um dos romances de Agatha Cristie. Um cenário belíssimo, fotografia impecável, figurino ídem. Sem falar no time de atores. Nada menos que Bette Davis, Mia Farrow, David Niven e Peter Ustinov que interpreta um Hercule Poirot bastante convincente.
A história se passa no entre-guerras, onde uma rica herdeira é morta num cruzeiro pelo Nilo. Seria tentador comentar a tipologia dos vários personagens: a escritora decadente, o socialista de faxada, a invejosa senhora, o advogado corrupto, a criada que se sente injustiçada, dentre outros.  Mas, vou apenas fazer uma pequena pontuação sobre a personagem que acaba por ser assassinada. Quem é ela? Uma linda mulher, jovem, rica, poderosa e influente, posuidora, portanto, de muitos atributos daquilo que seria invejável perante grande parte das pessoas. O interessante é que aquilo que a faz fascinante é também o que a deixa vulnerável, a ponto de todos os passageiros possuirem motivos para matá-la. Extrapolando (e muito) o filme, percebo que certos personagens (de cantores de rock a certos esportistas) que encarnam um ideal de sucesso, acabam por ser alvos fáceis da projeção maciça tanto de fascínio quanto de ódio. Sim, porque a linha que separa a admiração da inveja destrutiva é tênue.
Mas, se comento este aspecto da natureza humana é também para introduzir aquilo que para mim está em primeiro plano no filme, ou seja, o drama da mulher diante do amor. Riqueza e poder não são frente perante aquilo que representa o amor para uma mulher. Fiquemos, então com a ultima frase do filme onde Poirot cita Molière resumindo toda a problemática: "La grande ambition des femmes est d'inspirer de l'amour". No filme, como bem pontuou Ivan, o "de"(da frase em francês) não foi dito. Um erro proposital? Não sabemos, mas fato é que a grande ambição das mulheres é inspirada pelo amor. Temática em desuso? Não é o que vejo ao escutar muitas histórias de mulheres.
No filme, a personagem feminina que teria os motivos mais evidentes para matar a rival acaba realmente sendo a mentora do assassinato, mas..... a intenção passa por um desvio. Não se trata de uma vingança por ter sido traída pelo noivo, "trocada" por outra. Trata-se, como a personagem esclarece ao final, de olhar para o homem pela qual está apaixonada e perceber que ele deseja a fortuna, o poder e o glamour pertencentes à jovem rica. Então, "por amor" ela auxilia o homem a ter aquilo que ele quer. Seu ato, por mais insano, deplorável socialmente e fora da civilização, demonstra que sua ambição, longe de ser apenas a aquisição de poder e dinheiro, está localizada em algo que ultrapassa a lógica fálica, como diriam meus colegas psicanalistas.
O feminino é um assunto profícuo que me rendeu e que me rende muitas páginas escritas. Mas, deixo aqui apenas esta pincelada daquilo que meu olhar pôde capturar de significativo do filme. Então.....até a próxima!!! 
Marisa Nubile

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